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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Beber antes dos 18, não

Por André Amaral
Fonte:  www.diariopopular.com.br


Entrevista com o Dr. Alfredo Cardoso Lhullier



A lei é clara e as propagandas televisivas estão aí, diariamente, para lembrar aqueles mais "esquecidos": bebidas alcoólicas só podem ser ingeridas por pessoas com idade igual ou superior a 18 anos. Apesar da clareza da informação, como todos bem sabem, é bastante comum encontrar pessoas com idade até mesmo bastante inferior a maioridade ingerindo bebidas que contém álcool.

Por ser proibido, em muitos casos, estes jovens que têm por hábito a ingestão deste tipo de produto acabam consumindo bebidas de teor acoólico dentro de casa, com o aval de pais que, algumas vezes, não sabem a postura ideal a ser passada aos filhos. Quando a conduta é falha, em casos extremos, pode-se chegar ao alcoolismo, mais comum em homens do que em mulheres em índices três vezes mais alarmantes.

De acordo com o médico psiquiatra, especialista em dependência química, mestre em saúde e comportamento e doutor em psicologia Alfredo Lhullier, não é o fato de o jovem ter completado 18 anos que significa este estar liberado para o consumo de álcool. Além disso, ele também destaca a importância do exemplo dado dentro de casa, assim como o ensinamento de que é possível se divertir sem a companhia do álcool. "Permitir que os filhos bebam já é uma abordagem errada. Não permitir não é ser rígido, é ser cuidadoso. Esta é uma idade vulnerável e o principal problema é a atitude familiar frente ao álcool. "Alguns pais exageram na frente dos filhos ao invés de dar o exemplo", afirma.

Aumenta a bebida, aumenta o risco

Segundo Lhullier, a principal causa de mortes de adolescentes entre 14 anos e 18 anos são os acidentes de trânsito, geralmente causados pelo abuso do álcool. Além desta consequência bastante lógica, a ingestão de componentes alcoólicos também gera prejuízos neurológicos. Na avaliação do especialista, o uso de álcool na adolescência é mais prejudicial do que na fase adulta por essa ser a fase de amadurecimento do córtex pré-frontal, porção do cérebro responsável pelas decisões. "Prejudica o desempenho acadêmico, interfere no juízo de valores e está relacionado à condutas irresponsáveis. Pesquisas também revelam que o hipocampo de jovens que bebem bebidas alcoólicas é menor que o daqueles que não bebem, o que representa prejuízo grave de memória e atenção", revela.

Sinais de alerta

Segundo Lhullier, algumas características devem ser obervadas com atenção por estarem diretamente relacionadas aos transtornos gerados pelo consumo de álcool. A genética familiar é uma delas. "Crianças de famílias com problemas com álcool possuem maior tendência. Neste caso, mais do que o exemplo, a questão genética prevalece", opina.

Outro ponto de alerta citado pelo médico diz respeito àquelas pessoas consideradas "fortes" que, segundo ele, são, na verdade, ainda mais fracas. 
"São aquelas que não sentem os efeitos e que precisam beber maior quantidade para sentir o efeito. São as mais vulneráveis por não terem a mesma sensibilidade dos demais", explica.

Outros fatores, como o relacionamento com pessoas que fazem uso desta substância (namorados e namoradas), comorbidades (30% a 80% dos adolescentes com problemas relacionados ao uso de álcool têm outra doença mental, como transtorno de déficit de atenção e depressão), estilo de vida não convencional (aqueles que querem ser diferentes dos demais)e estrutura familiar também são de imensa relevância. "Crianças criadas somente pela mãe, ou com ausência de pai, são 22 vezes mais sucetíveis ao alcoolismo e ao uso de drogas", informa.

Para completar, o doutor faz uso de uma analogia, retirada de um livro chamado Dependência Química, que compara o álcool a um anzol. Segundo ele, aquilo que é mostrado nos comercias de TV funciona da mesma forma que uma isca, já que o jovem, assim como o peixe, não enxerga o mal escondido por trás da aparente satisfação proporcionada pela bebida. 
"É como o peixe, que morde a isca sem perceber a presença do anzol. Ele morde, fica capturado e dificilmente escapa", compara.

Em números

Pesquisa feita em 2001 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com jovens de idades entre 12 anos e 17 anos mostrou que: 

48,32% já havia experimentado álcool ao menos uma vez na vida.
5,2% já eram dependentes da substância.
Destes que já experimentaram, a maioria vive na região sul do país, contabilizando 54,5% do total. 

Apesar disto, entre os já considerados dependentes, a maioria vive nas regiões norte e nordeste, onde são contabilizados 9,3% dos casos de dependência. 
"Mais gente prova álcool na região sul, mas é na norte e nordeste que vivem os dependentes".

Pesquisa feita em 2004 com estudantes do ensino fundamental e médio na região sul apontou que: 
44,5% dos jovens entre dez e 12 anos já provou bebida alcoólica.
77% dos adolescentes com idades entre 13 e 15 anos já experimentou alguma bebida com álcool.
88% dos maiores de 18 anos já tomou bebida alcoólica.

"O que prova que a faixa mais vulnerável é a compreendida entre os 13 e 15 anos".
Estudo feito apenas em Porto Alegre, com jovens de idade entre dez e 18 anos, mostrou que: 
70% deles já experimentou alguma bebida alcoólica sendo que, destes, 68,2% havia provado ainda naquele ano, 47,8% no último mês, 15% ingere frequentemente e 7% ingeriu no ano passado.

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