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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Trinta dias depois do 8.8

Há exatamente um mês, aproximadamente neste horário, um dos maiores terremotos de todos os tempos atingiu o Chile.
Ali estávamos, eu e minha esposa, compartilhando alguns poucos dias de merecidas férias.
Foram os mais longos três minutos de nossas vidas.

Chega o tremor e logo, suor,frio e calor. Corpos e mentes em alerta total.
Ruídos intensos em sucessão, dos mais graves aos mais agudos. Ensurdecedor.
Vem então a constatação da impotencia e um pensamento de agradecimento a Deus pela oportunidade de ter vivido. Depois o abraço amoroso e silencioso, simbolizando desapego e resignação.

A saída apressada mas consciente e organizada.
A pessoa amada que se abraça e algumas coisas importantes para levar. O restante, que é apenas o resto, apenas matéria, pode ficar.
Na saída a busca da luz com o encontro de um corredor pródigo, aconchegante e iluminado pelo gerador.
Em seguida alarmes e instruções com vozes roucas, certamente inseguras pela primeira vez, dão o tom da vida, dando instruções para encontrar a saída.

No final a chegada ao solo firme e o encontro.
Homens e mulheres de diversas raças e crenças, muitos que talvez não acreditassem em nada mais além das posses materiais, estão unidos pela mesma realidade.

A seguir o que se vê são nuances diversas de um mesmo quadro: a percepção da fragilidade
Alguns manifestam por um silencio cuidadoso e outros com um soluço contido, quase silencioso.

E a solidariedade? Ah... esta dama tão ausente no mundo da competição apresentou-se vestindo traje de gala, em grande estilo, para confraternizar a vida.
Alguem alcança uma toalha que na mesa já estava, para ajudar cobrir a nudez de uma pessoa que se sentia humilhada.

Achei oportuno pegar um vidro com caramelos que estava no balcão da recepção para adoçar as vidas dos outros que alí estavam e que, na verdade, eram nossos irmãos.
O sorrisos se sucederam ao receber as doçuras e alguém pensou que um anjo estava passando por ali para espantar as loucuras.
A insonia predomina e não pode ser vencida. Eis então que os primeiros raios de sol nos saúdam dizendo: Bom dia! E a esperança predomina.
Pessoas que até então se consideravam desconhecidas, trocam abraços e confraternizam o triunfo da vida.

Por Waldemar Hillal Barboza - Médico Geriatra e sobrevivente agradecido do 8.8

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